Cinderela, 2005. Bacia plástica vermelha. Instituto de Reinserção Social para Raparigas. V. N. Gaia, 60 minutos.
Cinderella, 2005. Red plastic bowl. Rehabilitation Institute for Young Women, 60 minutes.
DV; PAL 4:3; 00:15:00.
Cinderela é um projecto que inclui um acto performativo, um grupo de desenhos usados como instruções e estudos para documentação e uma pintura anterior aos registos em vídeo.
O projecto teve a sua origem numa imagem seminal: levantar o próprio corpo sem um ponto de apoio, suportando o seu peso com a sua força. Da história original de Perrault, Cinderela apenas manteve duas referências: uma carruagem luxuosa que se transforma de repente num objecto trivial, e o encobrimento dos pés (a origem do conto é oriental, e está associado ao atrofiamento fetichista do pé. Recorda-nos que todo o acto de sedução é um desvio que impomos ao corpo).
Pedi a uma jogadora profissional de voleibol, alguém acostumado aos esforço de impulsionar o corpo, que entrasse descalça numa bacia de plástico e se erguesse, erguendo a bacia onde estava.
Durante cerca de uma hora, ela tentou erguer e suportar o próprio peso, numa espécie de dança cujo esforço se percebia como um puro jogo mental.
Os movimentos eram quase imperceptíveis, como se nenhuma acção fosse realizada. E, contudo, todo o processo envolveu uma força contínua, com momentos de pausa indistintos dos momentos de tensão, excepto nas diferenças da respiração.
É uma sequência sem assimetrias, sem distinções entre o princípio e o fim, sem uma conclusão esperada que não o mero abandono, uma vez que a acção apenas poderia ser quebrada, numa concluída.
Esta era uma acção – por definição uma situação em constante mudança – que não se distingue da imobilidade da imagem pictórica. O que dela ficou foi, sobretudo, a pintura realizada. As imagens forma registadas no estúdio de dança do antigo Instituto de Reinserção Social para Raparigas, uma instituição do Ministério da Justiça entretanto desactivada, em Vila Nova de Gaia.
Cinderella is a project that includes a performative act, a group drawings used as instructions and studies for documentation purposes and a painting prior to the video records.
The project had its origin in a seminal image: lifting one’s own body without a point of support, supporting its weight with its strength. From Perrault’ original story, Cinderella only kept two references: a luxurious carriage that suddenly becomes a trivial object, and the concealment of the feet (the origin of the tale is oriental, and is associated with the fetishistic feature of atrophying the foot. It reminds us that every seduction act is a deviation we impose on the body).
I asked a professional volleyball player, someone accustomed to the effort of boosting her own body to enter barefoot into a plastic bowl and lift herself, raising the bowl where she stood. For about one hour, she tried to lift and support her own weight, in a kind of still dance whose effort is perceived as a pure mental game.
The movements were almost unnoticeable, as if no action was being performed. And yet, the entire process involved a continuous force, with moments of quietude undistinguishable from the moments of stress, except for the differences in breathing.
It was a sequence without asymmetries, with no distinctions between the beginning and the end, without an expected conclusion other than sheer abandonment, since the action could only be broken, never finished.
This was an action — by definition an object constantly changing — which is not distinguished from the immobility of the pictorial image. What remains from it was, mostly, the painting. The images were recorded in the dance studio of the old Institute for Social Rehabilitation of Young Girls, of the Ministry of Justice, in Vila Nova de Gaia, Portugal.
Cinderela (Amarelo de Nápoles), 2005. Óleo sobre linho
Cinderella (Naples Yellow), 2005. Oil on linen
200 x 200 cm
THE BLIND CABINET 