SWEATBOX
Imagens Para Uma Estratégia Plural do Desenho e(m) Investigação
Colóquio: 14.04.2016, Auditório Pavilhão Sul
Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto
Instituto de Investigação em Arte, Design e Sociedade
Testemunhas Apesar de Si
Desenho e Testemunho
Em Maio de 2012, uma obra em três actos foi realizada em torno da reconversão do complexo industrial abandonado da Oliva, em S. João da Madeira. A apresentação de “Matching Body and Building”, um dos atos feito sem audiência, ficou irremediavelmente comprometida quando as imagens filmadas durante o acontecimento se perderam. Desde então, esta perda esteve na origem de um trabalho de reapropriação e inscrição, pelo desenho, da relação performativa original entre o corpo e a arquitectura industrial.
Se a inevitabilidade deste desaparecimento pode ser articulada num dos mais influentes discursos sobre a ontologia da performance, a perca das imagens que a sustentam revela, contudo, uma vulnerabilidade fundamental: a de que a memória sobre o que de facto ocorreu está em parte fora de nós. E isso também significa que a percepção do acontecimento é fortemente mediatizada por documentos reprodutíveis, não podendo ser definida apenas na singularidade do seu momento.
Esta comunicação pretende explorar o papel do desenho na construção do conhecimento da performance, situando-o entre a documentação e o desaparecimento. Procura-se articular um discurso entre os dois corpos de desenhos que acompanharam “Matching Body and Building”: os desenhos de protocolo usados no planeamento da acção e os desenhos de redocumentação da experiência vivida. Situam-se estes desenhos no debate sobre os paradoxos da documentação performativa, e abordam-se as influências que as noções de espectro (Derrida) e rumor calculado (Allan Kaprow) tiveram na sua génese. Discute-se o papel do desenho como mimésis da ação, recuperando a concepção tripartida da mimésis de Paul Ricoer como processo interpretativo da performance original. Com base em Paul Ricoeur, reflecte-se sobre a condição testemunhal do desenho, entre a historiografia e a ficção narrativa da performance, com a qual se constrói uma relação dialógica com a audiência, para reescrever uma realidade tornada inacessível à descrição directa.